A Mesbla, icônica rede varejista brasileira, destacou-se nas décadas de 70 e 80 pela inovação e variedade de produtos, mas enfrentou desafios com a hiperinflação e a abertura de mercado, culminando na falência em 1999, apesar das tentativas de retorno, seu legado permanece vivo na memória afetiva dos brasileiros.
A história da Mesbla é emblemática para o varejo brasileiro, tendo passado por altos e baixos que a tornaram um símbolo do comércio no país. Como uma das maiores redes de departamento, sua trajetória intrigante revela segredos sobre seu auge e seu dramático sumiço do mercado. Vamos explorar?
O auge da Mesbla nas décadas de 70 e 80
As décadas de 70 e 80 marcaram o período de maior sucesso da Mesbla, consolidando-a como uma das maiores e mais queridas lojas de departamento do Brasil. Com um modelo de negócios inovador e uma ampla variedade de produtos, a Mesbla se tornou um verdadeiro ícone da cultura brasileira.
Expansão e Reconhecimento Nacional
Nessa época, a Mesbla expandiu suas lojas para diversas cidades do país, tanto capitais quanto cidades do interior, se tornando um ponto de referência para compras e lazer. Suas lojas eram conhecidas por oferecerem desde utensílios domésticos até automóveis, atendendo a uma vasta gama de consumidores.
O Impacto da Mesbla na Sociedade
Com o Brasil passando por um período de urbanização e industrialização, a Mesbla se tornou uma das maiores empregadoras do país. Suas lojas geravam milhares de empregos, impactando positivamente a economia local e proporcionando oportunidades para muitos brasileiros.
Inovação e Variedade de Produtos
A Mesbla se destacava pela sua capacidade de inovar e oferecer uma grande variedade de produtos em um só lugar. Era possível encontrar roupas, eletrodomésticos, móveis, artigos de decoração e até mesmo carros. Essa diversidade atraía consumidores de diferentes classes sociais e estilos de vida.
Mesbla como Símbolo de Status
Frequentar a Mesbla era sinônimo de status e modernidade. As lojas eram bem decoradas, os produtos eram de qualidade e o atendimento era diferenciado. A Mesbla se tornou um lugar onde as pessoas podiam encontrar tudo o que precisavam e, ao mesmo tempo, vivenciar uma experiência de compra agradável e sofisticada.
A transformação da loja com o nome Mesbla

A história da Mesbla começou bem antes do nome que se tornou sinônimo de varejo no Brasil. Inicialmente, era uma filial de uma empresa francesa chamada Mestre & Blat, especializada em carros e peças automotivas. A transformação da filial em uma marca brasileira é uma história fascinante.
A Chegada de Louis Leni e a Mudança de Rumo
Em 1924, Louis Leni, um gerente da filial de Buenos Aires, foi transferido para o Brasil com a missão de revitalizar o negócio. Ele tomou a decisão crucial de separar a filial brasileira da matriz francesa, criando uma nova empresa nacional: a Sociedade Anônima Brasileira Estabelecimentos Mestre & Blaté.
O Surgimento do Nome Mesbla
O nome ‘Sociedade Anônima Brasileira Estabelecimentos Mestre & Blaté’ era complicado e difícil de lembrar. Em 1939, Louis Leni decidiu simplificar, abreviando o nome para Mesbla, uma junção de ‘Mestre’ e ‘Blat’. Esse nome curto e fácil de lembrar marcou o início de uma nova era para a empresa.
Estratégia Inteligente em Tempos de Guerra
A escolha do nome Mesbla não foi apenas uma questão de simplificação. Na época, a Segunda Guerra Mundial estava em andamento e a França havia declarado apoio à Alemanha. O Brasil, por sua vez, apoiava o outro lado do conflito. Manter um nome francês poderia trazer problemas com o governo brasileiro. A nova marca, portanto, representava uma estratégia inteligente para garantir a continuidade dos negócios.
Crescimento e Expansão da Mesbla
Com o novo nome, a Mesbla começou a crescer como uma empresa verdadeiramente brasileira. Louis Leni e sua família passaram a comandar a empresa, expandindo-a gradualmente. Em 1961, com o falecimento de Louis, a liderança passou para antigos funcionários e, posteriormente, para Henrique de Botton, casado com a filha mais velha de Louis. Sob sua gestão, a Mesbla celebrou 50 anos e redefiniu sua estratégia, focando totalmente no varejo, o que impulsionou ainda mais o seu crescimento.
Inovações e estratégias de marketing da Mesbla
A Mesbla sempre foi conhecida por suas inovações e estratégias de marketing arrojadas, que a ajudaram a se destacar no mercado e a conquistar o coração dos consumidores brasileiros. Desde a criação de catálogos de compras até o investimento em eventos culturais e esportivos, a Mesbla não poupou esforços para fortalecer sua marca e atrair novos clientes.
Pioneirismo nos Catálogos de Compras
A Mesbla foi uma das pioneiras no Brasil no uso de catálogos de compras. Essa ideia revolucionária permitia que os consumidores escolhessem produtos de suas casas e fizessem os pedidos remotamente, algo extremamente inovador, principalmente em regiões onde a Mesbla ainda não tinha lojas físicas. Os catálogos eram verdadeiras revistas, com fotos de alta qualidade e descrições detalhadas dos produtos, tornando a experiência de compra mais fácil e agradável.
Investimento em Marketing Cultural e Esportivo
A Mesbla investia pesado em marketing, promovendo eventos culturais e esportivos, principalmente ligados ao seu setor de vestuário. Essa estratégia visava fortalecer sua imagem diante do público e associar a marca a valores positivos, como cultura, esporte e lazer. A Mesbla patrocinava shows, peças de teatro, eventos esportivos e exposições, buscando atingir diferentes públicos e reforçar sua presença na vida dos brasileiros.
Importação de Produtos Inovadores (e Problemáticos)
Em uma de suas tentativas de inovar, a Mesbla chegou a importar máquinas fotográficas soviéticas para vender no Brasil. A ideia era oferecer um produto mais barato que as câmeras norte-americanas, mas com qualidade inferior. Essa tentativa de inovação acabou sendo um tiro no pé, pois as câmeras davam defeito com frequência e a empresa não conseguia prestar a devida assistência técnica. Além disso, faltavam peças de reposição e não havia produtos novos para oferecer como troca, prejudicando a imagem da empresa no setor de eletrônicos.
Reformulação Geral das Lojas
Com o fim dos anos 70 e o crescimento de concorrentes mais modernas, a Mesbla começou a enfrentar sérios problemas financeiros. Tentando se reerguer, a empresa apostou em uma reformulação geral de todas as suas lojas no Brasil. Foram contratadas consultorias especializadas e promovidas mudanças que iam desde a decoração dos ambientes à organização dos departamentos, até o design dos catálogos e os uniformes dos funcionários. Por um tempo, isso deu certo e a Mesbla conseguiu se manter como uma das maiores do país.
Os desafios enfrentados na era da hiperinflação

O final da década de 80 e o início dos anos 90 foram marcados por um período de grande instabilidade econômica no Brasil, com a hiperinflação corroendo o poder de compra da população e afetando as operações das empresas de varejo, como a Mesbla. Nesse cenário desafiador, a Mesbla teve que enfrentar diversos obstáculos para se manter competitiva e evitar a falência.
O Plano Collor e o Confisco das Poupanças
O Plano Collor, implementado no governo de Fernando Collor de Mello, foi um conjunto de medidas econômicas drásticas com o objetivo de combater a hiperinflação. Uma das medidas mais controversas foi o confisco das poupanças, que congelou as contas dos brasileiros e gerou grande incerteza e medo na população. A Mesbla, como outras empresas, foi duramente afetada pelo plano, pois a população, sem acesso ao próprio dinheiro, evitava qualquer gasto desnecessário.
Estoques Encalhados e Queda nas Vendas
Antecipando uma possível disparada nas vendas, a Mesbla acumulou um gigantesco estoque de produtos. No entanto, o plano econômico congelou as contas dos brasileiros, fazendo com que o consumo despencasse e os estoques ficassem encalhados. A empresa enfrentou dificuldades para liquidar os produtos e teve que lidar com prejuízos significativos.
Abertura do Mercado para as Importações
Com a abertura do mercado para as importações, o Brasil passou a receber uma grande quantidade de produtos estrangeiros. Isso foi ótimo para o consumidor, que passou a ter mais opções e preços mais competitivos. No entanto, para a Mesbla, a abertura do mercado foi bastante prejudicial. A empresa, que já vinha enfrentando dificuldades internas, viu a concorrência aumentar ainda mais. Marcas internacionais chegaram com força total, enquanto a Mesbla tinha uma estrutura burocrática e lenta, dificultando a adaptação às novas condições do mercado.
Lentidão na Tomada de Decisões
Com mais de 40 diretores envolvidos em decisões importantes, cada mudança levava tempo demais para ser aprovada. No varejo, essa lentidão significava perda de dinheiro e, consequentemente, perda de espaço no mercado. Enquanto outras redes agiam com rapidez para se adaptar às novas demandas dos consumidores, a Mesbla ficava para trás, perdendo competitividade e acumulando prejuízos.
O colapso da Mesbla e a falência em 1999
Apesar de todos os esforços para se manter relevante, a Mesbla não conseguiu superar os desafios econômicos e de gestão que se acumularam ao longo dos anos. O colapso da empresa foi um processo doloroso, marcado por dívidas, fechamento de lojas e, finalmente, a decretação de falência em 1999.
Venda do Controle para Ricardo Mansur
Em uma tentativa desesperada de salvar a empresa, 51% do controle da Mesbla foram vendidos para o empresário Ricardo Mansur, que já era dono da Mappin, outra grande varejista em dificuldades. A ideia de Mansur era unir as duas empresas em uma única marca, integrando as operações e, posteriormente, revendendo-as por um preço maior. No entanto, a crise interna das duas redes era pior do que ele imaginava.
Inadimplência e Falta de Liquidez
Logo após a aquisição, as lojas da Mesbla começaram a se tornar inadimplentes com aluguéis e fornecedores. A situação só piorava, e a única saída possível seria vender rapidamente o que ainda restava ou conseguir um empréstimo milionário, o que se tornou uma missão quase impossível em meio ao caos financeiro do país. Sem liquidez e sem confiança do mercado, a Mesbla entrou em um verdadeiro colapso.
Acusações de Crime Financeiro e Fuga de Ricardo Mansur
Em meio ao caos, Ricardo Mansur passou a divulgar informações financeiras falsas na internet, com o objetivo de assustar o mercado e forçar negociações. Ele chegou a ser acusado de crime contra o sistema financeiro e, em 1999, foi preso. No entanto, ele conseguiu um habeas corpus, foi solto e fugiu para a Europa, abandonando todas as suas empresas no Brasil.
Fechamento das Lojas e Decretação da Falência
Com Mansur foragido, o que restou da Mesbla virou estoque em liquidação, usado para tentar pagar salários atrasados. As lojas sofreram ordens de despejo, uma a uma. Em 24 de agosto de 1999, a última unidade, localizada em Niterói, no Rio de Janeiro, fechou suas portas. Naquele mesmo ano, a Mesbla declarou falência e encerrou todas as suas atividades definitivamente, marcando o fim da trajetória de uma das maiores redes de varejo que o Brasil já teve.
Tentativas de retorno e o legado da marca

Mesmo após a falência, a marca Mesbla permaneceu viva na memória afetiva dos brasileiros, inspirando tentativas de ressurreição ao longo dos anos. Essas iniciativas buscavam resgatar o prestígio do passado, adaptando-se aos novos tempos e às novas tecnologias. Embora nenhuma delas tenha alcançado o sucesso esperado, o legado da Mesbla continua presente no imaginário popular.
A Primeira Tentativa em 2009
A primeira tentativa de trazer a Mesbla de volta aconteceu em 2009, quando um empresário comprou os direitos do nome e planejava transformar a marca em uma loja virtual, apostando no setor de e-commerce no Brasil. No entanto, o projeto não foi adiante, e a Mesbla virtual nunca chegou a se concretizar.
O Marketplace Online de 2022
A iniciativa mais promissora surgiu em 2022, quando os irmãos Marcel Jerônimo Viana, ex-funcionário da própria Mesbla, e Ricardo Viana relançaram a marca como um marketplace online. A ideia era resgatar o prestígio do passado, mas se adaptando aos tempos modernos. A nova Mesbla funcionava como uma plataforma onde diferentes vendedores podiam anunciar seus produtos. No entanto, a plataforma não conseguiu competir com gigantes já consolidados, como Amazon, Mercado Livre e Magalu.
O Fim da Nova Mesbla
Apesar do esforço, a nova Mesbla também não decolou. O site está fora do ar, e a última postagem no Instagram foi feita ainda em 2022. A falta de recursos, a forte concorrência e a dificuldade em resgatar a essência da marca foram alguns dos fatores que contribuíram para o fracasso da nova tentativa.
O Legado da Mesbla na Memória dos Brasileiros
Ainda que as tentativas de retorno não tenham sido bem-sucedidas, o legado da Mesbla permanece vivo na memória dos brasileiros. A marca é lembrada com carinho por quem cresceu visitando suas lojas ou foliando seus catálogos. A Mesbla representou um período de otimismo e crescimento no Brasil, e sua história serve como um lembrete da importância da inovação, da adaptação e da gestão eficiente para o sucesso de uma empresa.



